domingo, 14 de agosto de 2005

Irrealidades

Ultimamente tenho reparado que a irrealidade está a cada dia nos ajudando a viver melhor a realidade. E não falo das horas de distração que passamos no cinema ou da "fábrica de ilusões" da TV. É algo mais sutil que nos faz pensar que o mundo real é fantasia.


Quem aqui nos últimos tempos não viu uma foto impressionante e disse "é montagem"? Ou mesmo fotos menos chocantes como as das revistas masculinas. Ou então vídeos que circulam na internet e levantam a dúvida se são reais ou obra de truques de computador. Um exemplo aconteceu quando mostrei uma foto da Daniela Cicarelli patolando um cara no mínimo estranho que retribuia o apertão em seu traseiro. Muitas pessoas falaram logo que era montagem mas um tempo depois vi a mesma foto no jornal com uma pequena explicação dizendo que tratava-se de um amigo da modelo e tudo era brincadeira. Aliás, até hoje a história do décimo primeiro dedo do pé dela está rendendo.


Hoje estava vendo pela primeira vez (acreditem) o famoso filme "Fahrenheit 11 de Setembro". O filme mostra algumas cenas chocantes da guerra no Iraque. Um bebê morto é jogado pro lado como se fosse um boneco velho, corpos carbonizados são linchados, soldados ferido, coisas bem light. Mas as cenas parecem ser de mentira pois já vimos tanta coisa parecida ou pior em filmes de ação, terror e catástrofe que aquilo soa irreal. O bebê parece mesmo um boneco, o homem ferido parece maquiado, as cenas não nos chocam mais a não ser que paremos para pensar um pouco sobre a realidade daquilo.


O mesmo parece acontecer com quem mata. Quem viu esse filme também se lembra dos soldados ouvindo música durante as batalhas e agindo como se estivessem em um vídeo-game. Eu já pensava sobre isso há muito tempo e sempre lembro quando falam que a TV, cinema e jogos são responsáveis por parte da violência. E eu concordo. Não por achar que eles estimulam os homicídios mas por achar que eles fazem tudo parecer irreal. Você atira num cara mas tudo bem, no "próximo filme" ele vai estar fazendo uma ponta de novo como o capanga de outro traficante ou como um dos soldados americanos. Ninguém para para pensar no que acontece depois do tiro, afinal, para os heróis é só mais um que cai do outro lado. Nessas horas sempre lembro de "Os Imperdoáveis" do Clint Eastwood, de 1992. Em determinado momento um rapaz mata um homem sentado no vaso sanitário. Depois ele está bebendo e pensando que por causa disso o homem nunca mais vai andar, falar, pensar ou respirar, só porque ele puxou o gatilho e confessa ter sido a primeira vez que fez isso. Acho que se algumas pessoas parassem para pensar mais no que tem depois que o tiro sai, as coisas seriam bem diferentes.


Não à toa a Christiane Torloni disse que o ator pula do abismo no nosso lugar e justamente isso é que nos faz sentir atraídos pela arte (aquela série "Ser ou não ser" do Fantástico até que é legal). Ver um sofrimento alheio que não existe nos faz sentir melhor com os sofrimentos reais, os nossos e os dos outros.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails