segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pensando diferente com relação a Santa Maria

Algumas coisas me preocupam com relação ao que acontece agora, após tragédia de Santa Maria.

Uma delas é a ênfase que têm-se dado ao fato dos seguranças terem impedido a saída das pessoas sem pagar a conta. Nem vou discutir o quanto isso é errado, só tento pensar um pouco diferente do óbvio. Por quanto tempo os estudantes foram impedidos de sair pelos seguranças?
No Twitter vi gente dizendo que em segundos eles foram atropelados, algo bem plausível se pensarmos na quantidade de pessoas na festa. Outra, será que eles sabiam mesmo do incêndio? Sendo sensato, acho muito difícil que eles tivessem barrado os estudantes sabendo que a casa pegava fogo. Olhando friamente, quantos estudantes morreram por terem sido barrados? A grande maioria morreu nos banheiros o que mostra a total falta de orientação no meio da fumaça, ou seja, eles sequer foram barrados pelos seguranças. O que me preocupa com isso é pensar que, ao fim do inquérito, aconteça como no desabamento de um prédio aqui no Rio de Janeiro em que dos seis indiciados, quatro são pedreiros da obra. É a corda arrebentando do lado mais fraco e os responsáveis pela tragédia podem sair impunes.

Outro aspecto é a crítica à falta de fiscalização de prefeituras e bombeiros às diversas casas que têm sido fechadas ou notificadas pelo país. Vamos lá, o dono de um estabelecimento deve cumprir as normas de segurança porque é o certo a se fazer ou porque alguém vai fiscalizá-lo? Os extintores devem estar com carga porque ele pode ser multado pelos bombeiros ou porque a segurança do seu estabelecimento e das pessoas que o frequentam pode depender disso? No Brasil parece que regras só devem ser seguidas se alguém fiscalizar e punir. Se não tem guarda ou pardal, pra que parar no sinal vermelho? Por ali não tem blitz da Lei Seca então vou encher a cara e dirigir. Claro que as autoridades devem cumprir sua função de fiscalizar, mas por que essa sensação de que as coisas só serão feitas se alguém cobrar?

Eu nem vou falar aqui de gente reclamando dos estabelecimentos sendo fechados, nem da abordagem religiosa da coisa, algo que o Izzy Nobre fez muito bem em seu vlog. Fazendo um paralelo ao que ele diz, poderia falar da politização estúpida que tenho visto. Um culpa o Capitalismo, outro culpa o Lula, outro tenta colocar a Dilma como culpada (como tentam colocar a culpa de tudo que dá errado no país no PT, antes seria o PSDB), isso torna o debate político no país patético e ninguém sai ganhando.

Como triste herança de tantas mortes, espero que ocorra uma mudança na legislação e possivelmente projetos de casas de shows no Brasil. A exemplo do que aconteceu após os incêndios do Andraus, Joelma e Andorinha, e do circo de Niterói, sempre citados nessas ocasiões. Quem observar os projetos de edifícios antigos com os novos vê a diferença nas rotas de fuga, escadas de incêndio, portas corta-fogo e equipamentos de combate ao fogo. Triste que sacrifícios tenham que ocorrer para que algo mude.

Um comentário:

Anna Flávia disse...

Concordo com todos os pontos, Daniel. Todos.

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