quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A vida como ela é...

Recebi esse texto por e-mail de um colega de trabalho e tive que postar aqui porque muita gente (mulheres) não acredita quando eu falo. Vejam que a opinião não é só minha.

Garota de Ipanema é a segunda música mais tocada no mundo. Só perde para Yesterday, dos Beatles. E pelo que tenho percebido nas rádios, logo, logo, também fica atrás de Umbrella, umbrella, umbrella. A principio, isso parece motivo de festa e júbilo. "Nossa, mas que orgulho para o nosso país". "Nossa, o Tom e o Vinícius levaram o nome do Brasil para o planeta inteiro". "Nossa, e a pedalada do Robinho?". "Nossa, o Brasil é mesmo maravilhoso". "Nossa, e o rebolado da Carla Perez?". Tá, muito legal. Eles fizeram um bem danado para o país. Mas, definitivamente, não para os cariocas.

É por causa desse sucesso estrondoso que nasceu um dos maiores infernos do Rio de Janeiro: a marra das cariocas. É claro, a menina sabe que a sua fama de monumento foi parar até em Omski e Dudinka. Normal. Elas se enchem de orgulho e auto-estima. E tome gordinha de tamanco dando toco em Búzios, tome 0x0 no Baixo Gávea. Tome vodka com RedBull pra dar uma levantada e tentar mais uma.

Foi por causa do doce balanço a caminho do mar que passamos tantos carnavais em Pompeu, Juiz de Fora, Lambari. Na boa, o que leva alguém a sair do Rio de Janeiro, passar pela Urca, por Ipanema e pensar. Uhuuuu, vamos pra Lambari. Chegando vamos direto pra aquela praça onde tem umas caixas de som no poste. Porra, na boa.

Por um lado, é bom, porque que os cariocas passam a conhecer mais o país e até o próprio Rio. Incluindo aí os seus espaços mais sórdidos: Rio Sampa, Excentric, Choperia Tropical, "Mariozinho". Tem o primo de um amigo meu que já foi mais de 5 vezes `a Coqueluxe. Tá bom, tá bom, fui eu. E foram mais de 10 vezes. Mas não vem não, que seu namorado também já foi lá.

O pior é que a música mais famosa do país não é apenas uma ode à mulher carioca. É uma ode ao toco dado pela mulher carioca. Aí, fica fácil, né, recebe elogio e ganha musiquinha pra vir e passar, pra deixar o cara tão triste, tão sozinho. Tá explicado.

Por favor, não que o Rio não tenha mulheres absurdas e tal. O problema é com a relação geográfica. Aquela gata da faculdade que você sonhou e vida toda e que só ficava com aquele cara fortinho, de camisa meio desbotada da Osklen, que chegava de bicicleta na praia e tocava Jorge Ben no violão - então, esse mesmo. Ou aquela outra que você pirou o colégio todo e que só ficava com aquele cara fortinho, de camiseta meio desbotada da Osklen, que chegava de bicicleta na praia e que estava aprendendo a tocar Jorge Ben no violão - então, esse mesmo. Nunca foi impossível ficar com elas. Impossível era ficar com elas no Rio. Porque no Rio, todas acham que têm um pouco de Helô Pinheiro.

Ai, inventam a festa do Castelo em Itaipava. Itaipava! E a festa a fantasia de Teresópolis. Teresópolis! Lá pode, né? Não é Rio. Pagou pedágio pode. Ok. Carnaval em Salvador então. Que maravilha. Ê ô, ê ô, que bom, você chegou. Bem-vindo a Salvador.

E no fundo, Tom e Vinicius são os incentivadores e, por que não, empreendedores de diversos segmentos da economia de nosso balneário. Tenho certeza de que a Garota de Ipanema não malhava na A!academia. Nem tinha feito aplique, nem comia salada no Doce Delicia. É a busca pelo helopinheirismo que impulsionou o crescimento e os investimentos em todas as áreas relativas à estética. Tanto a feminina como a
masculina. Porque o Rio de Janeiro é a única cidade do mundo onde esquisito é quem não malha.

Malhação é um ciclo. Às vezes de decaderabolin, às vezes de winstroll. As mulheres, por serem cariocas e, portanto, dificílimas, começam a malhar para se diferenciarem e entrarem na categoria impossíveis. Os homens, como o número de impossiveis menta, malham sem parar, tentando transformá-las em "quem sabe um dia".

E assim, cria-se também o maior número de caras mestres na conquista (expressão amplamente empregada por meu avô) do país. Quando o assunto é a paquera (essa foi piada, sério), crescer no Rio é treinar no BOPE, e sentir que quando você chega em outra cidade, todos são guardas municipais, daqueles que andam de bicicleta na Lagoa. Você, de escopeta e caveirão. Obviamente, é caveira, meu capitão.

Esse é o momento de elevação do carioca. O jogo fora de casa. Que bonito ver a bola rolando assim, redondinha. Sem defesa, sem barreira, sem falta. O futebol moleque. E é nessa hora que, sofrido, você resolve agradecer pela segunda música mais tocada do mundo. No fundo, ela cumpriu uma função muito maior. Ao tentar deixar os cariocas
prontos para as cariocas, acabou deixando os cariocas prontos para o mundo.

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