Esses dias termimei de ler a biografia de Jimi Hendrix escrita por Sharon Lawrence, jornalista e amiga do guitarrista americano. Mesmo descontando-se a visão apaixonada da escritora, vê-se que Hendrix foi uma figura única, daquelas que surgem às vezes para mudar algo no mundo e tem passagem rápida por aqui. Sua carreira durou praticamente só três anos e quatro discos oficiais até sua morte em 1970 aos 27 anos.
Há uns anos um professor da faculdade dizia que os artistas criam mais quando estão sofrendo e eu acredito nessa tese. Basta lembrar de Eric Clapton que teve dois dos seus maiores sucessos escritos em momentos de grande sofrimento. "Layla" foi feita quando ele estava apaixonado pela esposa de um amigo, Patty Boyd, então Patty Harrison, esposa de George Harrison. "Tears in Heaven", apesar de sua levada romântica, foi escrita quando Clapton perdeu seu filho Connor em uma queda da janela do 11º andar. Ou seja, a criação está intimamente ligada ao sentimento e a dor parece ser o mais poderoso sentimento para a criação.
Jimi Hendrix foi um desses jovens com infância sofrida, pai ausente e alcoólatra, mãe alcoólatra, jogado para lá e para cá entre membros da família (e hoje sua herança é disputada desta forma mas falo disso depois), pobre, passou fome procurando um rumo na vida e uma oportunidade de tocar guitarra. Ficava andando pela rua com a guitarra a tiracolo, tocando sempre que podia. Ganhou perícia, técnica ao expressar seus sentimentos através da guitarra. Acreditava que a música tem o poder de unir as pessoas, sonhava compor uma que fosse tão perfeita que as curasse. Em momentos da narrativa se vê como ele preferiu se expressar pelos sons da guitarra do que por palavras e foi muito bem compreendido.
Eu costumo dizer que um cara para se denominar guitarrista tem que ter ouvido Hendrix, se não é só um tocador de guitarra. John Mayer disse que Hendrix é o denominador comum de todos os estilos musicais. Guitarristas contemporâneos de Jimi se sentiram ameaçados, apavorados e foram influenciados por ele. Os atuais, com técnicas impressionantes, equipamentos modernos, arranjos elaborados e estudos aprofundados invariavelmente se referem a Jimi Hendrix como seu herói. Joe Satriani largou o futebol e foi ser guitarrista no dia em que Hendrix morreu, Pepeu gomes virou guitarrista e fugiu de casa, Pete Townshend e Eric Clapton pensaram em abandonar a carreira. Algmas pessoas questionam se ele é o maior guitarrista de todos os tempos, geralmente baseados nas técnicas desenvolvidas nas últimas décadas. É difícil convencer certas pessoas de que a habilidade com os dedos não significa virtuosismo, talento e o quanto a música mudou depois de Jimi Hendrix.
Para ter uma ideia, uma vaga ideia do que eu quis dizer, ouça "Little Wing", música que ele fez para sua mãe, de preferência a versão ao vivo em Winterland (acho que já postei ela aqui).
Para fazer justiça, não podia deixar de citar Mitch Mitchell e Noel Redding, baterista e baixista que acompanharam Hendrix na Jimi Hendrix Experience e que morreram sem terem sua importância reconhecida pela "família" Hendrix.
Às vezes eu queria conseguir expressar o que sinto com a guitarra mas acho que sou relaxado demais, logo esqueço o que me aborrecia, principalmente depois de gastar energia no kung fu. Sem falar que eu não levo muito jeito com as seis cordas, mas me divirto mesmo assim.
Hoje em dia tem quem ache que Joe Satriani, Steve Vai, Yngwie Malmsteen ou John Petrucci são melhores do que Hendrix mas quando eles se juntam em apresentações do G3 invariavelmente celebram o maior de todos com suas músicas, Red House, Voodoo Child ou outras.
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