sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Parque



Esse caso me aconteceu há uns meses, ou anos, e resolvi escrevê-la antes que ficasse maluco. Embora eu ache que assim que ela for lida eu serei dado como louco ou alguém que andou viajando pro Uruguai ou Holanda mas juro que não é o caso - bom, pelo menos não esse tipo de viagem.

Perto de onde moro, de onde morava também, existe um parque bem antigo. Antigamente este parque era uma casa, aliás uma baita casa, onde uma família do século XIX pelo menos viveu com seus escravos. Sim, é uma casa da época em que havia escravidão no Brasil e hoje é um parque onde famílias vão nos finais de semana para fazer piquenique.

Eu frequento este parque desde que era criança, embora não more por perto há tanto tempo, mas como estudei por ali e minha avó morava perto, era um lugar que ia com a turma do colégio ou com a família para brincar. Quando me mudei para a casa da minha avó, já falecida, voltei a frequentá-lo, já na minha adolescência. Nessa época o parque andava bem largado, quase não recebia visitantes, a manutenção era muito precária com árvores crescendo em qualquer lugar que as sementes caíssem. Mesmo assim eu ainda ia lá para ficar sozinho, pensar na vida, ouvir o silêncio das árvores.

Nessa época eu tinha alguns problemas que me perseguem até hoje e outros dos quais já me livrei, um destes era a insônia. Eu deitava para dormir e sempre levava horas até pegar no sono ou acordava de madrugada e levava horas para dormir de novo ou sequer dormia. Ficava rolando na cama, tentava ler, estudava, ia ver TV, nada adiantava. Algumas vezes desistia e ia dar uma volta, já com o Sol nascendo. Foi num dia desses em que essas duas peças da minha vida se encaixaram.

Acordei de madrugada e o sono não vinha mais. Rola pra um lado, pra outro, nada. Resolvi sair de casa com o céu ainda escuro, não devia ser nem quatro horas da manhã. Saí devagar para não acordar ninguém, a cachorra que eu tinha na época não fez barulho e fui andar pela rua. Me ocorreu a ideia de ir até o parque, que estava fechado àquela hora, é claro, mas eu sabia que poderia entrar pois o muro é baixo o suficiente para que qualquer um com mais de dez anos, ou até menos, pule. E foi o que fiz.

Ruas vazias, poucos carros passando, ninguém em volta, eu pulei o muro. Vale dizer aqui que eu sempre fui um cara muito medroso para violar regras, invadir um parque inclusive, mas acho que a insônia havia suplantado minha sanidade. Entrei com cuidado e fui andando pelos caminhos que eu conhecia mas conforme eu me afastava da rua e da iluminação pública o parque ia ficando incrivelmente sombrio. Meus medos de infância foram surgindo a cada vento que tocava as folhas que eu via mais claramente conforme meus olhos se acostumavam à escuridão. Não sabia se os arrepios que eu sentia eram fruto do medo ou do frio da madrugada misturado ao ar fresco do parque. Mas eu fui entrando e podia ver a iluminação do casarão de um lado e as luzes da rua de outro, o que me dava certo senso de direção.

Conforme me embrenhava eu ia redescobrindo o parque, outros sons, outras formas, eu pisava cada vez mais leve e parava de vez em quando para poder ouvir melhor e evitar ser pego por algum guarda que circulasse à noite (algo que nunca aconteceu, acho que tal tipo de ronda não existe lá). Eu ia pensando “vou até o coreto” e quando chegava lá pensava “vou até o aquário” e quando chegava no aquário, “vou até o parquinho” e quando já estava no parquinho “já vim até aqui, vou subir até o lago”. E lá eu ia, de uma forma que nunca havia pensado fazer, fui me aventurando pela escuridão do parque com suas plantas, árvores, folhas voando com a brisa, sons de animais e uma ou outra cobra imaginária.

Em determinado momento não podia mais ver luzes do casarão, da rua ou do prédio ao lado, a escuridão era quase total mas ainda era possível ver muita coisa e percebia a clareira onde fica o pequeno lago onde alguns patos viviam. Uma luz fraca revelava que o local estava coberto por folhas, obra do descaso com que o parque era cuidado naquela época. Fiquei observando como o vento as moviam quando notei uma claridade vindo por entre as árvores à minha direita. Este lado do caminho é uma subida um tanto íngreme, com uma vegetação mais fechada mas foi possível ver a luz pálida por entre as folhas, numa intensidade e cor que descartavam as possibilidades de ser uma casa ou lanterna de algum outro aventureiro. Não havia casas naquele local, nenhuma invasão e não havia como alguém acampar ali. A curiosidade me fez subir buscando espaços por entre as plantas em meio a troncos caídos e galhos com espinhos.

Lembrando agora eu devia parecer um desses mosquitos que são atraídos por uma lâmpada e morrem eletrocutados numa armadilha, se eu tivesse esta visão naquele momento talvez eu retornasse mas provavelmente eu estava capturado pela luz. Observava pequenos movimentos que me deixavam na dúvida se eram causados por uma movimentação da fonte de luz, das plantas ou minha. Cheguei perto o suficente para observar a forma da qual emanava aquela luz e acho que a partir daqui vocês me acharão louco.

2 comentários:

Tinúviel disse...

"partir daqui vocês me acharão louco."
nãaaaao...te acho um chato por não colocar a 2 parte!! hahahaha
;*

Não demore com a 2 parte.

Jairo Grossi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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