Esse caso me aconteceu há uns meses, ou anos, e resolvi escrevê-la antes que ficasse maluco. Embora eu ache que assim que ela for lida eu serei dado como louco ou alguém que andou viajando pro Uruguai ou Holanda mas juro que não é o caso - bom, pelo menos não esse tipo de viagem.
Perto
 de onde moro, de onde morava também, existe um parque bem antigo. 
Antigamente este parque era uma casa, aliás uma baita casa, onde uma 
família do século XIX pelo menos viveu com seus escravos. Sim, é uma 
casa da época em que havia escravidão no Brasil e hoje é um parque onde 
famílias vão nos finais de semana para fazer piquenique.
Eu
 frequento este parque desde que era criança, embora não more por perto 
há tanto tempo, mas como estudei por ali e minha avó morava perto, era 
um lugar que ia com a turma do colégio ou com a família para brincar. 
Quando me mudei para a casa da minha avó, já falecida, voltei a 
frequentá-lo, já na minha adolescência. Nessa época o parque andava bem 
largado, quase não recebia visitantes, a manutenção era muito precária 
com árvores crescendo em qualquer lugar que as sementes caíssem. Mesmo 
assim eu ainda ia lá para ficar sozinho, pensar na vida, ouvir o 
silêncio das árvores.
Nessa
 época eu tinha alguns problemas que me perseguem até hoje e outros dos 
quais já me livrei, um destes era a insônia. Eu deitava para dormir e 
sempre levava horas até pegar no sono ou acordava de madrugada e levava 
horas para dormir de novo ou sequer dormia. Ficava rolando na cama, 
tentava ler, estudava, ia ver TV, nada adiantava. Algumas vezes desistia
 e ia dar uma volta, já com o Sol nascendo. Foi num dia desses em que 
essas duas peças da minha vida se encaixaram.
Acordei
 de madrugada e o sono não vinha mais. Rola pra um lado, pra outro, 
nada. Resolvi sair de casa com o céu ainda escuro, não devia ser nem 
quatro horas da manhã. Saí devagar para não acordar ninguém, a cachorra 
que eu tinha na época não fez barulho e fui andar pela rua. Me ocorreu a
 ideia de ir até o parque, que estava fechado àquela hora, é claro, mas 
eu sabia que poderia entrar pois o muro é baixo o suficiente para que 
qualquer um com mais de dez anos, ou até menos, pule. E foi o que fiz.
Ruas
 vazias, poucos carros passando, ninguém em volta, eu pulei o muro. Vale
 dizer aqui que eu sempre fui um cara muito medroso para violar regras, 
invadir um parque inclusive, mas acho que a insônia havia suplantado 
minha sanidade. Entrei com cuidado e fui andando pelos caminhos que eu 
conhecia mas conforme eu me afastava da rua e da iluminação pública o 
parque ia ficando incrivelmente sombrio. Meus medos de infância foram 
surgindo a cada vento que tocava as folhas que eu via mais claramente 
conforme meus olhos se acostumavam à escuridão. Não sabia se os arrepios
 que eu sentia eram fruto do medo ou do frio da madrugada misturado ao 
ar fresco do parque. Mas eu fui entrando e podia ver a iluminação do 
casarão de um lado e as luzes da rua de outro, o que me dava certo senso
 de direção.
Conforme
 me embrenhava eu ia redescobrindo o parque, outros sons, outras formas,
 eu pisava cada vez mais leve e parava de vez em quando para poder ouvir
 melhor e evitar ser pego por algum guarda que circulasse à noite (algo 
que nunca aconteceu, acho que tal tipo de ronda não existe lá). Eu ia 
pensando “vou até o coreto” e quando chegava lá pensava “vou até o 
aquário” e quando chegava no aquário, “vou até o parquinho” e quando já 
estava no parquinho “já vim até aqui, vou subir até o lago”. E lá eu ia,
 de uma forma que nunca havia pensado fazer, fui me aventurando pela 
escuridão do parque com suas plantas, árvores, folhas voando com a 
brisa, sons de animais e uma ou outra cobra imaginária.
Em
 determinado momento não podia mais ver luzes do casarão, da rua ou do 
prédio ao lado, a escuridão era quase total mas ainda era possível ver 
muita coisa e percebia a clareira onde fica o pequeno lago onde alguns 
patos viviam. Uma luz fraca revelava que o local estava coberto por 
folhas, obra do descaso com que o parque era cuidado naquela época. 
Fiquei observando como o vento as moviam quando notei uma claridade 
vindo por entre as árvores à minha direita. Este lado do caminho é uma 
subida um tanto íngreme, com uma vegetação mais fechada mas foi possível
 ver a luz pálida por entre as folhas, numa intensidade e cor que 
descartavam as possibilidades de ser uma casa ou lanterna de algum outro
 aventureiro. Não havia casas naquele local, nenhuma invasão e não havia
 como alguém acampar ali. A curiosidade me fez subir buscando espaços 
por entre as plantas em meio a troncos caídos e galhos com espinhos.
Lembrando agora eu devia parecer um desses mosquitos que são atraídos por uma lâmpada e morrem eletrocutados numa armadilha, se eu tivesse esta visão naquele momento talvez eu retornasse mas provavelmente eu estava capturado pela luz. Observava pequenos movimentos que me deixavam na dúvida se eram causados por uma movimentação da fonte de luz, das plantas ou minha. Cheguei perto o suficente para observar a forma da qual emanava aquela luz e acho que a partir daqui vocês me acharão louco.

2 comentários:
"partir daqui vocês me acharão louco."
nãaaaao...te acho um chato por não colocar a 2 parte!! hahahaha
;*
Não demore com a 2 parte.
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